Introdução - Existem pecados de ação, omissão e involuntários e todos eles trazem consequências para nós. Muitos acreditam que uma vez que Jesus entrou em nossa vida, o cristão não peca mais, mas a grande verdade é que mesmo sendo revestidos do novo homem, a velha natureza ainda habita em nós e esta é inclinada ao pecado. A simples presença do fermento (pecado) dentro de nós, representado por uma falta de perdão, raiz de amargura, pensamento limitante ou negativo, desencadeia as nossas reações que não são exatamente como gostaríamos de reagir diante dos fatos.

Paulo fala desta contradição em Romanos 7.17-25. Pior ainda é que estes pecados podem estar guardados no inconsciente e, consequentemente, terem dificuldades de virem à luz. As consequências do pecado não confessado em nossa vida aparecem na forma de:

  1. Doenças psicossomáticas e envelhecimento prematuro – Salmo 32.3-5; Sl 51;
  2. Estresse, ranzice, mau humor, ataques de raiva, falta de paz, insônia, depressão;
  3. Perda da comunhão com Deus – Sl 66.18; Is 59.1-2; quando o cristão se torna carnal e sem sensibilidade para com o Espírito Santo.

Olhe para a profundidade da exposição de Paulo, ele está afirmando que embora tenha prazer nas coisas de Deus, nem sempre consegue agir coerente com este prazer. O que ele está dizendo é que tem algo dentro dele que não está coerente, embora tenha uma boa intenção, mas como você sabe, “de bem intencionado, o inferno está cheio”. Qual o segredo, então, para resolver este conflito?

1 – ENTENDENDO COMO A CARNE DOMINA

Adão e Eva foram criados sem pecado e em natureza física e espiritual boa e perfeita, mas a sua desobediência causou a corrupção da natureza humana e repassada a seus descendentes (Gn 5.3). Sendo o homem criado em corpo, alma e espírito, no pecado a parte espiritual do ser humano foi morta (separada de Deus), deixando o ser humano sob o controle da sua alma (psique = vontade, emoção e sentido). Uma criança herda através dos seus pais a natureza pecaminosa.

Os gregos eram dualistas, e criam que o que era mal no ser humano era o corpo (físico), mas a parte espiritual era boa. Este ensinamento influenciou grupos como os gnósticos, que se opuseram à doutrina da encarnação de Cristo porque acreditavam que Deus nunca tomaria uma forma física, já que o corpo era mal. O apóstolo João refutou este ensino (1Jo 4.1-3). Além disso, os gnósticos ensinavam que não importava o que uma pessoa fizesse em seu corpo, uma vez que o espírito era tudo que importava. Este ensino leva às pessoas a dois erros que a Bíblia condena: ascetismo ou à licenciosidade (Cl 2.23; Jd 4).

O resultado final do pecado é uma natureza humana mencionada como a "carne" na Escritura (Gálatas 5.16-24), que podemos denominar ALMA ou NATUREZA HUMANA. Não é o corpo físico. Por isso é que o nosso corpo não é a sede de todos os pecados (não adianta amputar). O domínio da “carne” leva o homem natural ao fracasso, impossibilitando que ele agrade ou sirva a Deus. É uma força interior compulsiva expressa em forma de rebelião contra Deus e sua justiça e só busca a satisfação pecaminosa. A “carne” jamais poderá ser reformada ou melhorada. Os pecados mencionados como obras da “carne” são pecados espirituais manifestados através do corpo físico. A única saída é sua execução total e substituição por uma nova vida em Cristo.

Se a natureza da “carne” é inclinada ao pecado, o resultado do seu domínio sobre o homem não pode ser outro que não suas obras: "adultério, prostituição, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias..” (Gl 5.19-21). Jeremias afirma que o coração do homem é enganoso e perverso (Jr 17.9).

Andar a partir do senso e razão pessoal implica em executar o próprio querer (EU) sem se importar com o querer de Deus. Enquanto uma pessoa não se converte ao senhorio de Cristo, ele é conhecido como homem natural mas no momento em que recebe Jesus e recebe um novo coração, sua parte espiritual é ativada e se torna um cristão, homem espiritual – 1Co 2.14-15, selado pelo Espírito Santo (Ef 1.13) que vem nele habitar e capacitar para a vida cristã efetiva e frutífera. E, justamente a partir deste momento, começará a guerra na psique humana (mente). Virão os conflitos entre a vontade da “carne” e este novo espirito que agora está ativo dentro do homem. A criatura (homem natural), não tinha este conflito, pois era dominado pelo pecado, mas agora a nova criatura (homem espiritual), tem o poder de dizer NÃO ao pecado, ao desejo da alma. Esta luta é incansável pois são duas vontades lutando incansavelmente dentro de uma só mente (Rm 7.18-19). É guerra da vontade própria e contra a vontade de Deus. Na verdade, existe uma resistência involuntária da parte humana, e é esta resistência que cria este atrito espiritual, ou seja, é a nossa carne resistindo à vontade de Deus.

Todas as vezes que um cristão cede ao pecado, deixa de ser homem espiritual e torna-se um cristão carnal (2Co 3.1), sabe o que deve fazer mas por não conseguir se render inteiramente a Deus e ao Espírito Santo, perde sua comunhão com Deus. O reflexo é uma vida cristã que dá mal testemunho, que vive em derrotas e muitas vezes açoitado pelo diabo. O que acontece conosco quando a carne domina?

  1. Separação de Deus (nesta vida e na próxima) - Rm 6.21; Rm 8.13; Gl 6.7-8.
  2. Vivemos sob escravidão do nosso pecado – e o escravo não pode dizer não ao seu senhor – Rm 6.16; a escravidão leva-nos a um estilo de vida destrutiva e deteriorada – Os 8.7.
  3. Inimizade com Deus, ao desobedecer sua lei moral.

Aplicação

Se você fizer um raio x da sua vida hoje, você consegue perceber se é natural, espiritual ou carnal? Como estão as suas reações nos conflitos com outras pessoas? Você age coerente com a Palavra ou apenas reage?

 2 – O DOMÍNIO DO ESPÍRITO

O Espírito Santo passa a fazer morada no coração humano quando este aceita a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Ao prometer e dar o Espírito Santo, o propósito de Jesus é conduzir o crente a fazer a vontade de Deus e auxiliar o cristão a subjugar o seu próprio EU, para fazer guerra contra a natureza carnal. Por isso, Paulo recomenda: “não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Intimidade com o Espírito Santo é fundamental para uma vida cristã vitoriosa. Ele é o opositor da carne, e é o que docemente constrange o crente a fazer a vontade de Deus.

Mesmo nascida de novo, a pessoa ainda possui a velha natureza com os seus desejos que lutam contra a nova natureza. No dia-a-dia, o Espírito Santo não se importa com os desejos da carne, e sim com o que Deus acha de uma situação. O Espírito tem a incumbência de fazer valer na vida do cristão a vontade do Senhor. Mas para que obtenha total êxito sobre a carne, é preciso que o crente aprenda a viver na dependência de Deus, que reconheça que o seu querer está contaminado pelo pecado, que assuma, de forma cabal, que é da sua natureza carnal que fluem os desejos pecaminosos (Mt 15.19).

Muitos vivem em derrota porque não têm andado na dependência de Deus. O cristão deve estar consciente de que só vencerá este conflito se render sua vida a Deus. Por esse caminho, o Espírito Santo tomará o controle total de sua vida. A “carne” será mortificada e o Espírito será vencedor. Jesus deixou um exemplo sobre o que é viver no Espírito: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lc 22.42). Deus quer que o cristão viva em vitória, mas para isso, a vida embora na carne, deve estar sob o completo domínio do Espírito (Gl 2.20)

Aplicação

Na hora de um conflito de vontades, você tem cedido para o pecado ou para o Espírito? Quanto é dificil para você ceder para o Espírito?

3 – SETE PASSOS PARA A VITÓRIA

Mesmo que busquemos a Deus, as fraquezas estão sempre diante de nós. Além disso, satanás está sempre buscando apresentar seu “prato cheio” afim de angariar alguns pela cobiça ou tentação. Mas a presença do Espírito Santo em nós é maior e, portanto, a vitória é possivel. No entanto a decisão é de cada pessoa. O que você deve fazer para viver em vitória?

1. Admitir que é fraco - Jesus disse que “a carne é fraca” (Mt 26.41). Nunca finja que as fraquezas não existem e que elas não podem derrubá-lo, nem se ache mais esperto ignorando a realidade do mundo espiritual. Contra as tentações o remédio é fugir, não enfrentar. Muitos caem porque brincam com o pecado.

2. Não use a fraqueza para viver pecando – muitos creem que já que a carne é fraca, então não há como vencê-la. Saiba que sozinho você jamais obterá vitória. A saida é vigiar e orar.

3. Você não está sozinho na batalha – vigiar e trabalho nosso, orar é esperar a intervenção de Deus. A vitória só é possivel com a parceria divina.

4. Feche todas as brechas – o pecado é sutil e sua sugestão vem de variadas formas. Satanás sabe exatamente qual é o nosso ponto fraco. Então, feche as brechas, elimine hábitos e atitudes que o levam a pecar.

5. A tentação é conforme suas forças – Deus te conhece e permite a tentação até o limite das suas forças, provendo inclusive o livramento (1 Co 10.13). Deus limita a força e o poder das tentações adequando-as ao que você pode suportar e vencer. O propósito de Deus é que você seja um vencedor e não um derrotado!

6. Levante-se e não fique prostrado – diante das batalhas travadas e talvez alguma perda ou queda, não desista, mas levante a cabeça e busque a santificação. Enquanto estivermos aqui, temos que decidir quem irá prevalecer. Nessa disputa, a melhor coisa a fazer se perguntar: "Em meu lugar, o que faria Jesus?" (1 Jo 2.6). Vença a fraqueza todos os dias, um de cada vez. Isso se chama posicionamento.

7. Santifique-se diariamente - mesmo vivendo debaixo da graça o crente experimenta o conflito entre sua antiga natureza e sua nova vida em Cristo. A resposta do crente está na compreensão de que a solução desse conflito está em responder positivamente à nova vida espiritual, alimentando o nosso homem interior com as coisas de Deus.

Aplicação

Se puder, compartilhe com os demais, uma situação de pecado que você cedeu e como foi a restauração à comunhão com Deus e com os irmãos.

Conclusão: Quando a “carne” quiser falar mais alto, lembre-se que Cristo pagou pela sua liberdade com o seu próprio sangue, mesmo sem nunca pecar. Como cristãos devemos estar mortos para o pecado e vivos para Deus (Rm 6.11). Por isso, você já tem a vitória que precisa e a capacitação para nunca mais ser escravo do pecado. Fortaleça o seu interior com oração, louvor e leitura da Bíblia todos os dias e seu relacionamento com Deus será cada dia melhor. (Gl 5.1).


Referencial bibliográfico

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã, 2012.

COUTO, Vinicius. Livre-arbítrio: uma introdução ao conceito histórico do arminianismo. http://www.alcancevitoria.com.br/est/teologia-sistematica/784-livre-arbitrio. Acesso em 01/09/2016.

KELLY, J. N. D. Patrística: Origem e desenvolvimento das doutrinas centrais da fé cristã. Vida Nova, 1994,

MARINO, Bruce. Origem, natureza e consequências do pecado. In: HORTON, Stanley (Org.). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. CPAD, 1996.

MELO, Elton. As crianças nascem em pecado ou no pecado? http://www.alcancevitoria.com.br/est/vida-crista/783-as-criancas-nascem-no-pecado. Acesso em 01/09/2016.

SPROUL, R. C. Boa Pergunta! Cultura Cristã, 1999.

WILEY, Orton H. Introdução à teologia cristã. Casa Nazarena de publicações, 2009.

 

Definição de termos teológicos

Ascetismo é uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, com objetivo de adquirir uma grande espiritualidade. Muitos ascéticos acreditam que a purificação do corpo ajuda a purificação da alma e a obter a compreensão de uma divindade ou encontrar a paz interior. Isto também pode ser obtido com a automortificação, rituais, ou uma severa renúncia ao prazer.

Licenciosidade é sinônimo de lubricidade, lascívia, volúpia, luxúria, libertinagem. A bíblia desmistifica e sexualidade mas condena a licenciosidade. A licenciosidade é a sexualidade distorcida.


Texto do Pastor Elton Melo, publicado na RED - Revista de Estudos Bíblicos, da Editora Batista Independente, Lição 12 - edição nº 241, do I Trimestre de 2017

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