Análise sintética do livro de Jonas
- Capítulo 1
a primeira coisa que fica clara na leitura de Jonas é o humor a partir do qual o livro é escrito – v. 2: ele se levantou, tal como Deus pediu, e foi para o lado oposto (a BJ afirma que Társis, para os judeus, é o ponto mais distante que eles podem imaginar, o fim do mundo)
- este humor continua quando o autor bíblico opõe a atitude de Jonas, o grande evangelista internacional, membro do povo escolhido de Deus, à atitude dos marinheiros, pagãos, incrédulos, adoradores de falsos deuses, que lançam sorte, impuros, etc:
Jonas |
Marinheiros |
---|---|
Indiferente, dorme enquanto a tragédia se abate sobre a vida dos outros |
Compassivos, tentam de tudo para salvar a vida de Jonas |
Calado, só fala sobre Iahweh quando o pressionam |
Exortam Jonas a ser fiel ao seu Deus: que é isso que fizeste? |
Covardemente, espera que eles o lancem ao mar |
Temem a Deus porque não querem cometer uma injustiça |
Orgulhoso, se recusa a dirigir-se a Iahweh |
Humildes, se prostram diante do Deus supremo e rendem louvor a Ele |
Implicações para nós, como igreja brasileira:
- Quando leio esta passagem, penso na igreja brasileira: estamos no meio de uma tempestade, e dormimos profundamente no nosso sono espiritual
- além disso, somos exortados pelos incrédulos – e, como Jonas, não ligamos para estas exortações
Capítulo 2
- muitas vezes, pousamos nossos olhos em detalhes que não têm nada a ver com nada, e perdemos o mais importante: grande peixe ou baleia?
- O importante aqui é, mais uma vez, a fina ironia da história: o autor bíblico nos convida a observar a arrogância e o orgulho de Jonas: ele precisou ficar três dias na barriga do grande peixe para, só então, humilhar-se diante de Deus e clamar por sua misericórdia
- esta passagem é interessantíssima: eu fico me perguntando quão sincera foi a oração de Jonas
- é claro que teve um bom grau de sinceridade: afinal de contas, três dias naquela caatinga, naquele cheiro de peixe digerido, dão sinceridade a qualquer um na hora de pedir socorro!
- Mas se formos prestar bastante atenção, a oração de Jonas é extremamente burocrática: cheia de chavões, de expressões comuns encontradas nos Salmos – parece as orações que eu ouvia na minha igreja super tradicional lá em Minas, daqueles presbíteros eméritos bem idosos: “Deus de Abraão, Isaque e Jacó, tu és o nosso pastor e nada nos faltará!”
- Também é claro que Deus sabia que este arrependimento de Jonas não ia muito longe – mesmo assim, opta por usar da sua graça maravilhosa e salvar a vida de Jonas
- mais uma vez a ironia do autor entra em cena: a forma pela qual Jonas é salvo é o vômito do peixe: cara indigesto, este Jonas!
Implicações para nós, como igreja brasileira:
- a misericórdia de Deus é maior do que a nossa falta de sinceridade ou o nosso pecado
Capítulo 3
- o capítulo começa com Deus repetindo a sua ordem: levanta-te
- desta vez, Jonas vê que é preciso levantar-se e ir para a direção correta
- o autor usa a hipérbole, o exagero para falar do tamanho da cidade (quando estava de férias em SP, vi uma reportagem no jornal local falando de uma expedição que atravessou a cidade, de ponta a ponta, em dois dias – e SP tem 18 milhões de habitantes!)
- o mais importante, aqui, é o recorde de velocidade de Jonas: eram necessários três dias, mas Jonas tomou só um
- o arrependimento que se estende por toda a cidade é impressionante: desde as pessoas na rua até o rei
- e quem foi que pregou ao rei? Não foi Jonas, certamente a sua agenda não permitiria isso
- o que mais impressiona é que nesse arrependimento sincero o rei sabia que existia a possibilidade de que Deus não tivesse misericórdia deles – v. 9: quem sabe, talvez... - mesmo assim, as ações foram tomadas e os ninivitas foram poupados pela misericórdia de Deus
- a missão sempre foi e sempre será missio Dei: mesmo apesar da imperfeição da pregação da igreja, Deus continuará a fazer a obra, o que não é um convite a sermos relapsos!
Capítulo 4
- o último capítulo é simplesmente sensacional: Jonas fica simplesmente revoltado com a misericórdia divina – a versão da BJ fala de um grande desgosto, e do profeta pedindo a própria morte
- por que a morte era melhor que a vida para Jonas? Qual era o critério que separava um falso profeta de um verdadeiro profeta?
- O fato é que Jonas colocou o seu ministério na frente das pessoas: ou seja, para ele valia mais que todos morressem e que ele voltasse com os louros da profecia cumprida do que a vida daquelas pessoas!
- Mas Jonas não desiste: quando no v. 4 Deus fala que ele não tem motivo para se irar, ele entende que Deus iria castigar a cidade, pega a sua pipoca, o seu refrigerante, e fica diante da cidade esperando o espetáculo começar
- na melhor das teologias da prosperidade, Deus faz com que uma mamoneira cresça e faça uma sombra gostosa para jonas: ele se “alegra grandemente”, com asua auto-estima lá em cima, achando que era, novamente, o predileto de Deus
- só que aparece o grande instrumento de Deus, o enviado do Senhor: um verme
- que poder, tem este verme: com uma picada, ele acaba com a sombra de Jonas, que mais um vez se desanima com a sua vida
- reparem na arrogância de Jonas: Deus pergunta se é certa a sua indignação e ele, petulante, responde que sim, e até a morte!
- A mensagem de Deus no final mais uma vez tem a ver com a questão da valorização do outro: se a mamoneira era importante, como é que as pessaos não eram?
- Assim como Jonas tinha uma distorção na sua visão com respeito ao seu ministério, sendo considerado mais importante que a vida das pessoas, ele também tinha um apego demasiado ao seu conforto – sua indignação não foi por causa do desequilíbrio ecológico, da devastação da Mata Atlântica, das queimadas na Amazônia, foi só porque aquela arvorezinha dava uma sombrinha gostosa...
Implicações para a igreja brasileira
- precisamos ser menos apegados aos nossos títulos, aos nossos cargos, à nossa credibilidade ou não, ao nosso conforto, e sermos mais apegados ao mundo! Não às coisas do mundo, mas às pessoas do mundo
Em geral:
- a grande mensagem do livro de jonas não é aos ninivitas, mas é ao povo de Deus
- é um chamado à fidelidade, à humildade, ao sentimento de que o Deus misericordioso é senhor sobre todas as pessoas, e o nosso chamado é para anunciar este senhorio