Gideão é um personagem interessante na Bíblia. Embora tenha passado a maior parte da sua vida sem exercer a liderança, quando foi necessário, assumiu e fez acontecer. teve erros e acertos. Por isso, a vida deste personagem nos ensina. Gideão foi juiz em Israel, numa ocasião especialmente conturbada. A época dos Juízes, coincidiu com um período de frouxidão moral e relativismo religioso que contaminou toda a nação.
A nação israelita vivia um caos moral e espiritual, tendo experimentado nove períodos apostasia e cinco guerras civis, que juntos marcaram a alma do povo. E, desse estado intermitente de anormalidade, resultava sempre uma geração indefinida que precisava de um líder resoluto. Um dos significados secundários do nome Gideão é “guerreiro”. Mas o Anjo do Senhor o encontrou amedrontado e escondido dos inimigos midianitas, enquanto limpava o trigo no lagar (que era específico para pisar uvas); e, numa aparente contradição que só Deus é capaz de subverter, o encarrega de libertar o Seu povo. Considere quatro aspectos da vida de Gideão, que certamente servirão de norteadores para nós, hoje, de modo que possamos aprender com as 14 preciosas lições espirituais inerentes às mesmas.
I. O CHAMADO. “Então, o Anjo do Senhor lhe apareceu e lhe disse: O Senhor é contigo, homem valente” (Jz 6.11,12). Pelo contexto da história, não pareceria realista afirmar que o Senhor estava com Gideão, tampouco que ele era um guerreiro “valente”. Disso, aprendemos três lições de como Deus nos trata, a despeito das nossas circunstâncias:
1ª lição: Deus enxerga a nossa realidade de um modo diferente do que a vemos, “porque o Senhor não vê como vê o homem” (1Sm 16.7).
2ª lição: Deus nos observa e está conosco, embora as circunstâncias pareçam dizer o contrário; os Seus olhos estão atentos aos fiéis da terra, que têm “recebido do Senhor a misericórdia de ser fiel” (Sl 101.6; 1Co 7.25).
3ª lição: Deus conhece o nosso potencial, mesmo que não saibamos ainda que o possuímos. Eles nos escolheu quando ninguém teria motivos para fazê-lo (Sl 139.16).
II. A CONFIRMAÇÃO. De medroso, Gideão passa ao status de libertador (Jz 8.28). Ele se habilita a aprender três preciosas lições, que toda pessoa que pretende andar com Deus também precisa saber:
4ª lição: Sem Deus, os obstáculos são intransponíveis; porém, quando Deus entra em cena, transforma não somente a sua vida, mas também todo o seu contexto. Ele aprende que é a presença de Deus que faz toda a diferença!
5ª lição: Enquanto o mundo cultua o poder e a força, Deus usa os fracos para aniquilar os fortes, porque o Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza (1Co 1.26-29; 2Co 12.9). A dependência de Deus com humildade e confiança é a base da nossa vitória, não o contrário.
6ª lição: A autoridade de Gideão no trato com o grupo despreparado que liderava dependia da sua fidelidade a Deus e da clareza com que transmitia ao povo as orientações recebidas Dele, não de acordos de conveniência ou alianças de governabilidade. O pouco com Deus, principalmente nesse caso, é tudo!
7ª lição: “Mudou dentro, mudou fora”. Deus não tenta mudar as circunstâncias primeiramente; antes, Ele instila confiança interior em Gideão, mudando o seu coração de tímido para audaz; de pensar pequeno como um perdedor para um líder que só via as grandes vitórias em sua frente; de um homem fraco que se escondia sob o manto do medo, em um líder resoluto que inspirava multidão de guerreiros para lutarem contra o poderoso inimigo que os oprimia há décadas.
III. LIÇÕES VITAIS. O modo como alguém vive a vida que Deus lhe deu é o substrato que o próprio Deus utiliza para trabalhar na vida dessa pessoa. Uma minoria segue em frente e permanece fiel a Deus. Uma maioria, ao contrário, faz da inação caprichosa e da murmuração desairosa o corolário da sua vida. Portanto, precisamos pinçar quatro preciosas lições vitais da vida de Gideão:
8ª lição: Gideão estava trabalhando quando Deus o chamou (Jz 6.11). Isto porque Deus não chama ociosos para trabalharem na Sua Seara. Simples assim! Preguiçosos ou medíocres serão descartados por Deus (Ap 3.16).
9ª lição: Quando decidimos erigir um altar para Deus, temos de assumir o compromisso de derrubar todos os outros altares de “deuses-que-não-são” (por exemplo: poder, sexo, dinheiro, religião, família, trabalho etc.). Antes de tudo, Gideão “edificou um altar ao Senhor”, adorando-o como único Deus de sua vida (Jz 6.22-25). Saiba, portanto, que Deus não quer ser primeiro na sua vida, nem na de ninguém, como costumeiramente se ensina; ao contrário, Deus quer ser único e tudo na nossa vida (Mc 12.29,30).
10ª lição: Para Gideão realizar “uma obra para Deus”, foi preciso primeiramente confiar em Deus, que o chamou. Isso, e somente isso, é a base para manter intacta a convicção do chamamento e incólume a certeza da vitória, a despeito das crises e circunstâncias a serem enfrentadas. Para Gideão, limitado na sua teologia e no conhecimento de Deus, sua fé foi provada com a porção de lã colocada na eira (Jz 6.36-40). Comparados com Gideão, nós temos, hoje, muito mais Revelação e maiores condições de enfrentar as batalhas da vida com a confiança de fé no Senhor que nos chamou. Assim, cada líder deve apegar-se à sua certeza de fé para realizar a missão da sua vida, porque “o justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4;Gl 3.11).
11ª lição: Temos de cuidar para que o nosso sucesso não seja a porta de trás do nosso fracasso. Depois da campanha vitoriosa, Gideão rejeitou o poder militar e o político, mas sucumbiu ao poder religioso (Jz 8.22-27). A pessoa que alcança o sucesso segundo Deus não é aquela que sucumbe aos argumentos bajuladores da hora, nem a que segue os conselhos e práticas do sindicato da maldade, mas aquele que medita na palavra de Deus e faz do Senhor o Seu Conselheiro fiel (Sl 1.1-3).
IV. MINORIA COM DEUS. Causa estranheza Deus querer que Gideão vença um exército poderoso usando apenas um pequeno grupo, uma minoria insignificante, e ainda por cima composta de gente despreparada e que na semana anterior estava escondida em suas próprias fobias. Que lições tirar desse episódio?
12ª lição: O líder jamais deve se impressionar muito com massa ou multidão, como se o número de apoiadores fosse prenúncio de vitória. Deus usa quem Ele quer, quando quer, do jeito que quer, pois a vitória vem Dele somente. Além do mais, Deus não divide a Sua glória com ninguém! (Jz 7.2).
13ª lição: O líder deve evitar o culto à personalidade, assim como o culto ao poder da organização que lidera. São muitos os que sucumbem na avenida do pecado de soberba. Quando são pequenos e sua influência é pouca, buscam a Deus com humildade e reverência. Quando atingem o poder e se tornam influentes, procuram receber a glória e o louvor que só pertencem ao Senhor. E isso se torna, para eles, o início do fim.
14ª lição: O líder deve ter cuidado com a vaidade e o orgulho, evitando cair na tentação de valorizar sua habilidade pessoal acima da dependência de Deus, assim como esquivar-se de exaltar suas técnicas e métodos, sacralizando-os como se fossem divinos. Devemos saber que o nosso desempenho, ou a “obra de nossas mãos”, só pode valer alguma coisa quando abençoado e confirmado por Deus (Sl 90.17). O poder vem de Deus e o nosso sucesso é obra Dele.
Em resumo, essas quatorze preciosas lições da vida de Gideão devem nos servir como balizas na nossa caminhada cristã, de modo que possamos vencer todas as opressões da vida e, ao fim e ao cabo, possamos sair de cada luta pessoas melhores do que éramos quando entramos, tornando-nos, assim, “mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou” (Rm 8.37).
Saiba que a única forma de você se tornar mais do que vencedor é sair da luta não somente com a vitória (pois a vitória só o torna um vencedor!), mas também com os despojos da batalha (sendo o maior deles a capacidade de se tornar uma pessoa melhor!). Deus abençoe a sua vida e lhe faça mais do que vencedor!