A forma como os tradicionais A. B. Simpson, D. L. Moody e R. A. Torrey influenciaram positivamente o pentecostalismo, impacta ainda hoje a nossa geração! A expressão “Segunda Bênção” é por demais conhecida no vocabulário pentecostal. De fato, ela foi tomada como sinônimo para batismo no Espírito Santo. Mas um dado de relevância histórica, que deve ser observado, é que esta expressão já havia sido cunhada antes mesmo do advento do pentecostalismo. É justamente nesse contexto, que aparecem as figuras daqueles que seriam conhecidos como os “avivalistas da Segunda Bênção” – Moody, Simpson e Torrey.
Para entendermos a importância desses três ícones do protestantismo histórico para o pentecostalismo primitivo, faz-se necessário recuarmos no tempo e buscarmos os fundamentos doutrinários lançados por eles, os quais serviram de sustentação ao Movimento Pentecostal na sua fase embrionária.
Na edição 2004, o Almanaque Abril destaca que “por causa de sua grande ascensão, em todo o mundo, no século 20, o fenômeno (pentecostalismo) já é considerado por alguns a maior revolução do cristianismo depois de Lutero. Com um século de notória existência, o pentecostalismo firmou-se como um movimento com legitimidade dentro do cristianismo histórico. A odisséia desse extraordinário movimento do Espírito encontra-se fortemente documentada nas páginas da Bíblia e da História da Igreja”. 1
Uma cristã de nome “Agnes Ozman assegurou um lugar na história pentecostal quando se tornou a primeira pessoa a falar em línguas na escola de Charles Parham, em Topeka, Kansas”, diz E. L. Blumhofer num verbete bibliográfico sobre essa pioneira do pentecostalismo norte-americano. Blumhofer ainda sublinha que “Após a experiência de línguas de Ozman em 1901, ela retornou para um trabalho missionário na cidade. Em Lincoln, em 1906, ela ouviu acerca do pentecostalismo, relatou sua experiência primitiva, e identificou-a com o movimento emergente”.2
Os pentecostais destacam, em sua história, que os nomes da Escola Bíblica Betel, em Topeka e da Rua Azusa, em Los Angeles, no Estado da Califórnia (EUA) são tidos como os endereços onde se registram o advento do pentecostalismo moderno, no início do século 20. No entanto, esses mesmos historiadores têm enfatizado que as raízes desse movimento encontram-se solidamente fixadas no protestantismo histórico, herdeiro da grande Reforma Protestante.
UM TIÇÃO TIRADO DO FOGO
Um dos maiores movimentos de reavivamento da igreja protestante foi aquele promovido pelos irmãos Wesley, na Inglaterra do século 18. É interessante entendermos o reavivamento Wesleyano para que possamos ter uma melhor compreensão do pentecostalismo, pois, como observa o historiador Luis de Castro Campos Jr., o pentecostalismo teve origem nas doutrinas de John Wesley. 3
John Wesley, fundador da Igreja Metodista, nasceu na Inglaterra em 1703 e morreu em 1791. A partir da dramática experiência de sua conversão no dia 24 de maio de 1738 (ao ler o prefácio de um comentário de Lutero sobre a Epístola aos Romanos), Wesley teve sua vida e ministério transformados. Ele observou que a Igreja Anglicana, da qual fazia parte, caíra num ritualismo morto, devido ao seu forte sistema hierárquico e centralizado, que a distanciou das massas.
Wesley renunciou ao clericalismo anglicano, permitindo “a participação de pregadores leigos, entre os quais Nelson, um pedreiro”. 4 Para Wesley apenas ritos não produziam transformação nem santificação na vida das pessoas. Ele “não tinha paciência com coisas secundárias, como mediação sacerdotal e os mágicos efeitos dos sacramentos. Antes, exortava os homens a terem experiência pessoal com Jesus Cristo”. 5
O MOVIMENTO HOLINESS
Por ocasião de sua viagem missionária aos estados Unidos da América, Wesley teve contatos com cristãos piedosos que o despertaram para os efeitos espirituais de uma vida mais profunda. A doutrina bíblica da santificação do crente, esquecida ou não enfatizada pela igreja de seus dias, encontrou em Wesley um ardoroso defensor.
A santificação do crente como um outro estágio da vida espiritual e posterior à conversão, enfatizada por Wesley, foi a grande bandeira levantada por avivalistas do século 19. A esse respeito observa Luís Castro Campos Jr.: “A preocupação com a ‘santificação’ foi passando de movimento a movimento, avançando no tempo, e chegando aos grupos pentecostais, originando sua doutrina básica: o batismo do Espírito Santo”. 6
Essa busca por uma vida mais pura, uma herança do metodismo wesleyano, foi difundida pelos avivalistas da santidade, também denominados de holiness. “Pouco depois da Guerra Civil norte americana, na segunda metade do século 19”, observa Joe Terry, foi, formado um movimento chamado Movimento Nacional da Santidade, o qual incorporava acampamentos e reavivamentos freqüentes, que faziam constantes as atividades desses grupos. 7 Ainda sobre o movimento holiness, o pastor Joe Terry destaca ainda que “em torno de 1880 os membros pobres queixaram-se de que a religião do coração, como era conhecido o metodismo, estava desaparecendo. Grupos surgiram nas Igrejas Metodistas e ‘Metodistas Episcopais’, chamados holiness, que queriam uma volta aos princípios de Wesley.
A doutrina da perfeição, acentuada por ele tinha pouco efeito, segundo eles, na maioria da Igrejas Metodistas”. 8 A pregaçãoholinnes tornou a por em destaque a necessidade de o crente possuir uma vida mais profunda com Deus. Nesse novo contexto doutrinário, uma vida mais santa surgia com força como uma segunda bênção ou segunda obra da graça, enquanto a justificação aparecia com a primeira.
O Movimento da Santidade preparou o protestantismo norte-americano para o advento do pentecostalismo. Historiadores pentecostais sublinham que o pentecostalismo surgiu do Movimento da Santidade do século 19. A formulação do Evangelho integral, o zelo pela evangelização do mundo nos últimos dias e a oração intensiva pelo derramamento do Espírito Santo precipitaram os reavivamentos em Topeka, Los Angeles e os muitos que surgiram”. 9
O pentecostalismo, portanto, não surgiu do nada, mas há todo um contexto histórico-teológico no qual a pregação dos avivalistas da segunda bênção ocupou um papel central. É dentro desse contexto que as figuras dos três mais importantes avivalistas da segunda bênção são peças-chave para se entender o pentecostalismo. A propósito Paulo Romeiro observa que “a ênfase na perfeição cristã ou na inteira santificação, ensinadas por Wesley, mais tarde receberiam outros nomes: “Segunda Bênção” e “Revestimento de Poder”, por exemplo. 10
O termo batismo no Espírito Santo passaria a ser usado por alguns grupos posteriormente. Outros líderes e denominações na América do Norte seriam influenciados pelos mesmos ensinos e se encarregariam de disseminá-los. Entre estes destacaram-se Charles G. Finney, Dwight L. Moody, A. B. Simpson, Andrew Murray e R. A. Torrey”.