Discipulado lida com gente, de todos os tipos, culturas e percepções. Cada pessoa nova que se converte ou chega na Igreja, para congregar ou ser membro, precisa entender e se submeter a um processo de discipulado. Como todos os processos relacionado às pessoas, você já sabe, 2 + 2, não são necessariamente 4 - Em se tratando de relacionamento humano, tudo que podemos fazer é perceber alguns sinais e entender como agir com aquela pessoa específica. Essa relação de discipulado pode ser sadia ou doentia; pode ser um sucesso, ou um completo fracasso; pode gerar bons frutos, mas também pode gerar frutos nocivos. Basicamente o fator relacionamento entre o discipulador (mentor) e o discipulando (mentoreando), será a grande chave para os resultados. Aqui vão algumas observações colhidas ao longo do meu ministério.

Estabeleça relações saudáveis!

Nada mais, nada menos que simpatia e empatia. Muito embora devemos amar a todos, alguns caem no gosto pessoal à primeira vista. Não recomendo que o processo de seleção discipulador x discipulando seja um processo engessado, muito menos inflexível. É preciso empatia entre as duas pessoas (ou casais), e, de uma certa forma, é bom que isso aconteça nos primeiros dois ou três encontros (e de preferência, debaixo de oração). Nestes primeiros encontros, as partes devem falar e avaliar as suas expectativas quanto ao discipulado, bem como estabelecer os limites em relação a tempo, horários e sistema de acompanhamento do discipulado. Muitos problemas serão evitados se observadas as seguintes regras básicas:

  1. Solteiros não devem discipular casados em seus problemas matrimoniais e familiares. Problemas afetos ao casamento (e vida familiar), devem ser tratados, por um casal com mais experiência; os problemas na área sexual, precisam ser tratadas por pessoas mais maduras e como a vida conjugal equilibrada e paz.
  2. Os moços não devem discipular moças. Nos primeiros passos de uma vida cristã, é altamente recomendável que rapazes discipulem rapazes, e moças discipulem moças, afinal sempre há o risco de um envolvimento sentimental, principalmente se ambos são ainda muito novos.
  3. Homens casados não devem discipular moças e/ou mulheres casadas (e vice-versa). Se você é homem, evite discipular uma mulher recém convertida casada, a menos que sua esposa participe diretamente. Isto significa que você só fará o discipulado (e atendimento) de uma mulher com sua esposa presente em todos os encontros; 
  4. Preferencialmente que tenham a mesma faixa etária -  Quando um novo convertido é muito mais velho ou muito mais experiente que o discipulador, há o risco de, em vez de influenciar, o discipulador venha a ser influenciado pelo outro. Para cada faixa etária, é essencial o discipulador certo. Para evitar isso, tenha e faça uso de um bom banco de dados.
  5. Estabeleça relações saudáveis, trate cada um do jeito certo. Não podemos tratar a todos igualmente. Não podemos discipular da mesma forma o jovem e o velho. O tratamento deve ser de acordo com cada pessoa. É prejudicial ter um método único e dar a todos o mesmo tratamento. Embora os princípios e ensinamentos são os mesmas para todos, no entanto, o tratamento deve ser de acordo com a pessoa, tendo em conta a sua idade, sexo, personalidade, capacidade e outras questões.
  6. Dedique-se a uma pessoa por vez - Cada pessoa deve cuidar de um novo convertido, um novo discípulo. Cuidado para não se enroscar em multiplos cuidados. 
  7. Cuidado com a higiene pessoalSeja cuidadoso com a higiene pessoal: limpeza, odores e aparência geral. Se o encontro for na casa do discipulando, seja criterioso com a sua aparência, com o tipo de roupa, enfim, não cause escândalo, muito menos objeções gratuitas, que podem impedir o processo de discipulado.

Respeite a dinâmica de aprendizado

Cuidado para não correr demais, nem alimentar mais que a pessoa consegue absorver, gerando intoxicação espiritual. Toda lição é para ser lida, junto com o discipulando. Você pode e deve fazer observações, esclarecer dúvidas durante a leitura, mas jamais deixe de ler a lição. Além disso, lembre-se que o óbvio só é óbvio para quem sabe, nunca presuma que o discipulando conhece os temas abordados; trate todos os assuntos de forma que estes sejam compreendidos. Uma boa dica, é pedir para a pessoa descrever para você um conceito que acabou de ser ministrado. Outro cuidado essencial, é não tentar abreviar o estudo, apressando, para terminar o mais rápido possível. Lembre-se que você está trabalhando com um vaso de barro.

Cuidado com os seus preconceitos

Todos nós temos uma lente, pela qual enxergamos as coisas (preconceito pessoal). Não imponha o seu preconceito, mas foque no ensinamento da Palavra. Cuidado, tem muita gente que tenta mudar o exterior quando o interior ainda não foi mudado. É importante levar o novo convertido (seu discipulando) a ter experiências pessoais com Deus. Da mesma forma, cuidado com as lentes denominacionais. Ao mesmo tempo que elas precisam ficar claras para o seu discipulando, há que se compreender que quem faz a obra é o Espírito Santo. Ao mesmo tempo, cuidado para não se mostrar um líder fraco (sem autoridade), sendo brando em demasia e condescendente com a vida do discípulo não o ajudará no seu desenvolvimento. Nesse caso, a relação nada mais é do que uma amizade, sem instruções, ordens claras, monitoramento e gestão.

Seja pontual e confiável

Há pessoas que não são pontuais e anda desmarcam em cima da hora. Um novo convertido pode entender esta desmarcação como uma rejeição pessoal. Outros tem o péssimo hábito de ficar relatando o que aconteceu em momentos de discipulados passados. Além disso, quando você conta muitos casos ocorridos nas sessões de discipulado, o discipulando tende a se fechar, pois ele pensa (com razão), que o mesmo se dará com o que ele falar contigo. É importante, também sempre começar e terminar com uma oração. Além disso, os encontros não devem passar de uma hora de duração.

 

Não tente resolver problemas complexos

Você não autoridade em todos os assuntos, por isso, limite-se ao processo do discipulado que lhe foi proposto. Aprenda a dizer “não sei”. Há pessoas com problema de drogas, alcoolismo, homossexualismo, prostituição, depressão profunda, grande envolvimento no satanismo e outras dificuldades semelhantemente graves, que exigem um acompanhamento especializado. Procure o seu pastor. Não tente fazer algo que está além de sua capacidade e maturidade. Tenha humildade de reconhecer que você pode contar com os seus líderes. Em determinadas situações, encaminhar o discípulo para outra pessoa, e muitas outras vezes consultar seu líder e aconselhar-se com ele em vez de dar uma resposta precipitada, te livrará de grandes problemas.

Não abuse da autoridade espiritual

A autoridade espiritual no discipulado deve ser em amor. Exercer a autoridade sem amor, causa muitos danos. Exercer autoridade não significa agir e falar em tom ditatorial e agressivo, senão, mostrar ao discípulo, a vontade do Senhor com amor e firmeza. Embora, algumas vezes, uma repreensão é necessária, ela não pode ser o tom permanente em nosso relacionamento com os discípulos. Da mesma forma, você não deve monitorar o seu discipulando o tempo todo. As estatísticas mostram que pessoas superprotegidas são inseguros e necessitam constantemente de “mamadeira” espiritual. Não faça tudo por ele, deixe que ele se esforce um pouco também. Por exemplo, você não tem que buscá-lo de carro para todas as reuniões da igreja ou de discipulado. Assim como as crianças podem ficam mimadas, os novos convertidos também ficam. E depois eles não vão querer ir para a Igreja sozinhos, sempre vão exigir que alguém vá buscá-lo. Isto se aplica a muitos outros aspectos da vida cristã. Deixe que ele ande com as próprias pernas.

Lembre-se que os discipulandos novos convertidos são ávidos por aprender, tomam a ideia de ter comunhão de forma extrema. Com isso, transforma-se em “perseguidor” do seu discipulador, a ponto de não fazer nada sem que o discipulador saiba primeiro. É até um gesto louvável, mas cuidado, para não tornar seu discipulando altamente dependente de você. Este é um dos males mais arraigados na natureza humana. Quando percebemos que estamos no controle (alguém que dizemos “venha” e ele vem, para outro dizemos “vai” e ele vai, a outros dizemos “faça tal coisa” e faz) podemos sentir uma satisfação carnal. E isso pode chegar a perverter o nosso coração, fazendo uso da autoridade para alimentar o seu ego. Ao exercer autoridade, faça-a sempre no sentido de servir o seu discipulando. 

Cuidado para não manipular a pessoa - Lembre-se: a pessoa que estiver sendo colocada sobre seus cuidados é uma discípula de Cristo e não sua. A Palavra de Deus diz para cuidarmos do rebanho de Deus que há entre nós, não com constrangimentos, mas espontaneamente, como Deus quer…; não como dominadores dos que nos foram confiados, antes tornando-nos modelos do rebanho (1Pe. 5.2-3). Se uma pessoa irá segui-lo (a), isso deve se dar pelo seu exemplo de vida cristã, mas jamais pela manipulação emocional ou sentimental.

Devemos lembrar que, acima de tudo, somos irmãos. Qualquer discipulando deve ser livre para admoestar o discipulador quando vê algo errado em sua vida. Há os que questionam porque há rebeldia em seu coração, mas há aqueles que questionam porque eles têm mais vida e inquietações legítimas no seu interior. Não resista sistematicamente a qualquer questionamento, mas objetivamente, considere a contribuição dos irmãos que pensam diferente de você.

Não sufoque o novo convertido

Capacite sem sufocar a pessoa - Na fase básica do discipulado, o objetivo é tornar seu discipulando um aprendiz de líder, portanto você deve ensinar e formar. Por isso aprenda a delegar responsabilidades e dê espaço para o seu discipulando experimentar. O cuidado exagerado sempre é perigoso. A consequência disso será que discipulando se cansará de você e da Igreja. Se ele se sente sufocado, poderá fugir e voltar para a velha vida. Vamos ilustrar. Certo dia o pastor disse:

– irmão Zezito, quero confiar o irmão Antonio aos seus cuidados. Quero que você seja o discipulador dele.

– Pode contar comigo, pastor, o meu sonho era ser um anjo da guarda na igreja. Estarei atento aos passos dele, garantiu. Montarei uma vigilância constante.

Mas o que o pastor não esclareceu, nem o irmão Zezito perguntou, era até onde ele poderia ir nessa vigilância sem sufocar o outro.

E o irmão Zezito levou muito a sério a incumbência. Ele queria ser um ótimo discipulador, cuidar bem de perto. Nos dias que se seguiram, logo ao se levantar, o irmão Zezito telefonava para o irmão Antonio. E repetia o mesmo ao meio-dia e à tarde, sem lhe dar trégua. E mais, “cumprindo sua obrigação”, todas as noites ia visitá-lo, constrangendo-o e tirando sua liberdade. E ainda acrescentou uma longa lista do que ele “não devia fazer”; e como se isso não bastasse, vigiava-o de espreita cada vez que o irmão Antonio saía de casa.

Ao fim de duas semanas o irmão Antonio "desapareceu" da igreja de forma repentina; por o apóstolo Paulo, nos orienta a sermos moderados (Tt 2:6). Tenha equilíbrio. Respeite a privacidade do outro e não o sobrecarregue com excesso de atenção. 

O bom discipulador, conhece o caráter de Deus, é moderado e respeita que Deus nos criou com a capacidade de livre escolha. Por isso não ultrapasse os limites da privacidade do discipulando. Uma coisa é o seu discipulando espontaneamente contar, confessar, confidenciar algo de sua intimidade. Nunca tente forçar a entrada ou invadir a privacidade do discipulando. Quando o Espirito Santo está agindo, este processo será natural. 

O principal objetivo do discipulado é que o discipulando cresça e chegue a maturidade da vida cristã. Na medida em que isso ocorra a, dependência deve ir declinando para dar lugar a mutualidade “sujeitai-vos uns aos outros” (Ef 5,21; 1 Pedro 5.5). Incentive o seu discipulando para crescer ainda mais do que você mesmo.

Não faça negócios

Durante esse tempo de discipulado, você não deve fazer qualquer tipo de negócio com o discipulando. Ele ainda não tem maturidade e algo muito pequeno ainda pode escandalizá-lo. Não se recomenda que dê ou empreste dinheiro a ele. E, também, não peça dinheiro, nem mesmo emprestado (isso vale inclusive para objetos). Se você sentir de Deus de ajudá-lo, comunique ao seu líder e ajude de maneira anônima. 

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