1.1 — Neemias, cujo nome significa o Senhor conforta, era um estadista de alto posto associado a Esdras no trabalho de restabelecimento do povo de Judá na Terra Prometida. O mês de quisleu corresponde a novembro e dezembro em nosso calendário (Ed 10.9). O ano vigésimo refere-se ao décimo segundo ano do reinado de Artaxerxes I, o Longânimo (464—424 a.C.). Em 444 a.C. Artaxerxes era o mesmo rei persa que havia delegado poderes a Esdras a fim de que voltasse para Jerusalém (Ed 7.1).
A cidadela de Susã ficava a cerca de 240 Km ao norte do Golfo Persa, atualmente o Irã. A fortaleza, ou o palácio real fortificado, foi construída sobre uma acrópole. A cidade servia como uma residência de inverno para os monarcas da Pérsia. Susã é famosa também na história bíblica como o lugar no qual Daniel recebeu a visão do carneiro e do bode (Dn 8.2) e como o lar de Mordecai e Ester (Et 1.2).
1.2 — Hanani, irmão de Neemias (Ne 7.2), tinha visitado Jerusalém e retornado para Susã. Essa viagem, que abrangeu quase 1.600 Km só de ida, teria levado, pelo menos, quatro meses. Esdras e sua caravana levaram quatro meses na viagem de ida e volta da Babilónia para Jerusalém (Ed 7.9). Neemias estava preocupado com o povo judeu e com Jerusalém.
1.3 — A vida era difícil para o povo em Jerusalém, em grande parte, devido às condições do muro da cidade. No antigo Oriente Médio, o muro de uma cidade fornecia proteção aos habitantes e, conforme criam, era um sinal da proteção do deus (ou deuses) cultuado (s) por aquele povo. Logo, o estado arruinado do muro de Jerusalém envergonhava o nome de Deus.
1.4 — Chorei e lamentei. Neemias estava profundamente abalado; afinal, sem um muro, Jerusalém ficava vulnerável a ataques. As riquezas do tesouro do templo (Ed 8.15-36), por exemplo, seriam uma tentação para os inimigos de Israel. Deus dos céus. Esta expressão para o Altíssimo é muitas vezes usada nos livros de Esdras e Neemias.
1.5 — Senhor. Neemias clamou a Deus usando Seu nome relacionado ao concerto com Israel (Ex 6.2-9). A utilização desse título por parte de Neemias é similar ao uso que fazemos da frase em nome de Jesus em nossas orações. Deus dos céus. Neemias reconhecia o governo de Deus sobre o mundo, incluindo Sua soberania sobre o rei pagão que estava sobre Neemias, o povo judeu e a cidade de Jerusalém. Concerto e benignidade. Ao usar essas duas palavras juntas, Neemias estava lembrando o Senhor das Suas promessas. O Todo-poderoso havia firmado Seu caráter na Sua lealdade demonstrada no concerto estabelecido com o Seu povo. De acordo com os termos da aliança (Dt 28; 29), Deus tornou as bênçãos disponíveis apenas àqueles que cumprissem os mandamentos dele.
1.6 — Estejam, pois, atentos os teus ouvidos, e os teus olhos, abertos. Neemias pediu a Deus que olhasse para ele e ouvisse-o enquanto orava. A intenção dessas palavras era encorajar aquele que estivesse orando, pois o Senhor não cerra Seus ouvidos nem Seus olhos para o Seu povo (Êx 2.23-25).
Filhos de Israel. Ao usar essa expressão em relação ao povo judeu, Neemias ressaltou a continuidade do povo judeu de sua época com os israelitas do passado. Ele, então, confessou os pecados da casa de seu pai, assim como os da sua própria casa. Sua confissão foi nacional, pública e pessoal. Seu próprio pecado fazia parte de um todo.
1.7 — Israel havia pecado contra o Senhor e contra os Seus mandamentos. Ao usar o pronome nos, Neemias se incluiu entre o povo pecador. Mandamentos, estatutos e juízos. Essas expressões descrevem a totalidade da Lei divina (Ne 9.13,14).
1.8 — Lembra-te. Depois de confessar tanto o seu pecado quanto o do povo, Neemias lembrou o Senhor acerca do que Ele mesmo tinha dito. Eu vos espalharei entre os povos. Essa é uma alusão ao concerto de Deus em Levítico 26.27-45 e Deuteronômio 30.1-5.0 próprio Neemias havia nascido na Pérsia, uma nação distante, porque o Altíssimo tinha cumprido essa promessa.
1.9 — O Senhor havia prometido que, se os israelitas se voltassem para Ele em obediência, o Altíssimo iria ajuntá-los mais uma vez na terra deles. Neemias se dirigiu ao Senhor como o Deus que mantém o concerto e confessou os seus pecados e os do povo, porque a Lei exigia confissão (Lv 16.21). Então, lembrou o Todo-poderoso de Sua promessa: fazer com que Israel retornasse para sua terra.
E os trarei ao lugar que tenho escolhido para ali fazer habitar o meu nome. A última intenção do concerto divino não era apenas fazer o povo regressar, mas fazê-lo voltar ao lugar onde o Altíssimo estabelecera Seu nome. Para que isso acontecesse, muito precisava ser feito. Então, mesmo sendo verdade que algumas pessoas tinham retornado para a terra e que o templo tinha sido reconstruído, permanecia o fato de que o muro de Jerusalém estava em ruínas e o povo estava sob repreensão (Ne 5.9). Nesse sentido, Jerusalém ainda não tinha sido restaurada.
1.10 — Teus servos e o teu povo. Ao utilizar essa frase, Neemias estava sugerindo ao Senhor que a época era propícia, o povo estava preparado e o trabalho de restauração de Jerusalém era justo. Tua forte mão é uma das expressões associadas com a libertação, da parte de Deus, de Israel do Egito (Êx 6.1; 13.14; 15.6; Dt 6.21).
1.11 — Teu servo e Teus servos. Neemias e o povo santo de Israel compartilhavam interesses comuns diante do Altíssimo.
Faze prosperar hoje o teu servo. Neemias, apesar de desfrutar do conforto de um palácio real e de uma posição de honra e responsabilidade, pediu ao rei permissão para regressar a Jerusalém, a fim de reconstruir o muro e restaurar a comunidade. Havia várias razões convincentes para ele permanecer em Susã, mas, mesmo assim, pediu a Artaxerxes que autorizasse seu trabalho na obra de Deus. Como copeiro do rei, Neemias tinha uma posição respeitada, e sua proximidade constante com o governante da Pérsia fazia com que ele ficasse a par dos segredos de estado e dos assuntos pessoais do governante.